Curitiba oferece primeira pós-graduação em palhaçaria hospitalar do mundo

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Curso semipresencial certificado pelo MEC ensina bobologia, filosofia, relações públicas e tem até residência

Uma escola de Curitiba afirma ter criado a primeira pós-graduação em palhaçaria hospitalar do mundo. O curso, que é gratuito, começou no último 7 e vai durar um ano. A iniciativa é da recém-criada EPAH (Escola de Palhaçaria Hospitalar), feito em parceria com a PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

“Mesmo sendo formada em artes cênicas e com inúmeros cursos na área da palhaçaria, sentia falta de um estudo sistematizado e direcionado para a área hospitalar”, conta a advogada e atriz Rosele Vidolin, 49, uma das alunas.

São aulas online duas vezes por semana, com encontros agendados todo mês e algumas aulas extras. Foram ofertadas 25 vagas através da Lei de Incentivo à Cultura, com uma seleção entre 53 candidatos que passaram por entrevistas.

Apesar de existirem diversos cursos livres ou de extensão na área de palhaçaria hospitalar, especialmente na região Sudeste, a diferença da EPAH está na carga horária de 360 horas, que inclui uma residência, e na certificação pelo Ministério da Educação.

Durante o curso, os alunos terão as disciplinas de bobologia 1 e 2, filosofia, relações públicas e multiartes (na qual são capacitados com habilidades artísticas para conexão com o paciente e no ambiente de saúde). Também vão ter aulas psicólogos, enfermeiros e médicos. No final, está prevista uma “residência bobológica”, para colocar a vivência prática no hospital, sob supervisão de tutores.

O analista de RH João Pedro Oliveira Moreira, 28, que atua há oito anos como palhaço em hospitais de Joinville (SC), conta que buscou cursos de aprimoramento, mas só encontrou opções em São Paulo, com alto custo de deslocamento.

“Espero nessa pós unir a teoria à prática, com pessoas de diferentes níveis de atuação”, afirma.

“Muitas vezes, falta aos voluntários algumas capacitações, a começar por entender qual é a principal função do palhaço ou da palhaça dentro do âmbito hospitalar. Porque muita gente acha que é levar alegria, fazer rir, mas isso é extremamente secundário”, diz o ator, palhaço e professor Marcelo Marcon (Palhaço Mingal), 43, idealizador do curso. “A primeira coisa que o palhaço ou a palhaça de hospital tem que fazer é gerar conexão”.

Enquanto a equipe de saúde está voltada para resolução dos problemas, diz ele, “o palhaço vem com um olhar para aquilo que está saudável. Seja qual for o estado do paciente, sempre tem um lado saudável que quer se comunicar.”

Marcon diz que a palhaçaria hospitalar no Brasil muitas vezes é voltada ao assistencialismo.

“A escola vem despertar para o profissionalismo, pois ser voluntário não é sinônimo de ser amador”, afirma. “O voluntário pode se profissionalizar. A proposta da escola é desenvolver os alunos, ajudá-los a propor projetos a hospitais, podendo ser remunerados por eles. Mas, caso isso não venha a acontecer, que se mantenha como projeto voluntário, mas com uma característica profissional.”

Quem faz a gestão do curso é a N Produções Culturais, que coordena o projeto Especialistas da Alegria em hospitais de Curitiba há uma década.

Diretor da produtora, Jefferson Bertoldi, 47, defende o projeto. “Muita coisa já foi feita, mas agora abrimos um diálogo com a academia, pois existem várias pesquisas mostrando a importância do trabalho do palhaço dentro do hospital, das relações terapêuticas, o palhaço como promotor de saúde. Agora poderemos dialogar sobre isso em sala, e no futuro creio que mais instituições se abrirão para essa pesquisa.”

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