Mortes em colisões traseiras crescem e têm uso celular como um dos responsáveis

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Levantamento aponta que número de óbitos nesse tipo de acidente aumentou 13% neste ano em rodovias federais

Do alto da cabine de seu caminhão, Antonio Emídio de Moraes, 59, se diz impressionado com a quantidade de motoristas vistos com celular na mão. O uso do aparelho é apontado como um dos responsáveis pela falta de atenção ao volante, principal causa de colisões traseiras — as mortes neste sinistro de trânsito cresceram 13% em rodovias federais em 2024.

“Para onde você olha tem alguém usando celular, seja motorista de carro, de caminhão e ônibus, ou mesmo por quem anda de moto”, afirma o caminhoneiro. “Ele virou um vício, parte do corpo.”

De acordo com dados tabulados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), nos sete primeiros meses deste ano, 355 pessoas morreram em colisões traseiras em rodovias federais pelo país -no mesmo período de 2023 foram 315 óbitos.

No mesmo período, o total de mortes causadas por todos os tipos de acidente nessas rodovias aumentou 7% -foram 3.228 casos nos primeiros sete meses de 2023, contra 3.444 óbitos em 2024.

Em outra comparação, o número de colisões traseiras cresceu 9% nas rodovias federais de janeiro a julho, enquanto o total de acidentes de todos os tipos aumentou.

As colisões traseiras representaram cerca de 20% de todos acidentes nestas rodovias.

A PRF não aponta quantos dessas batidas foram causadas pelo uso do celular. De acordo com estudos da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), metade dos acidentes provocados por falta de atenção tem a utilização do aparelho como responsável.

“Normalmente, quem provoca uma colisão traseira não está dirigindo com a devida atenção para manter uma distância segura à tempo de reagir”, afirma Flávio Emir Adura, diretor-científico da associação.

Médico especializado em trânsito, ele enumera os riscos da violência desse tipo de colisão, menor apenas que as frontais. O motorista (ou o passageiro ao lado), por exemplo, pode ser arremessado contra o para-brisa.

Quem está no banco traseiro, se não estiver com o cinto de segurança afivelado, é jogado para o teto ou mesmo contra quem está na parte da frente do veículo.

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Colisão traseira matou o motorista de um carro em agosto deste ano, em Tibagi, nos Campos Gerais do Paraná – Foto: Divulgação/PRF

Pesquisas da Abramet, afirma o médico, apontam que um terço dos motoristas dirige distraído, seja pela interação com outras pessoas no veículo, por falar ao celular, usar aplicativos, como de mensagem, ou por não estarem com as mãos firmes ao volante.

“Uma cinza de cigarro batida para fora, mas que volta para dentro do carro com o vento, pode tirar a atenção e provocar uma tragédia”, diz.

O policial Paulo Guedes, coordenador de prevenção e atendimento de sinistros da PRF, considera que a falta de distância segura para o veículo da frente é o maior risco para as colisões traseiras. Essa, lembra, é uma infração grave de trânsito, com multa de R$ 195,23 e penalidade de 5 pontos.

Ainda segundo ele, a fiscalização pode se tornar mais rígida, com uso de equipamentos com inteligência artificial e fiscalização por vídeo. “A maior incidência é de motociclistas”, afirma Guedes, citando que de 1.936 colisões traseiras graves neste ano, 1.140 envolveram motos.

Santa Catarina é o estado com mais casos: 17 mortes em 2024, a maioria em um trecho de aproximadamente 10 km na BR-101, na região de São José.

José Acácio Júnior, gerente de operações da concessionária Arteris, cita também cansaço de caminhoneiros ou a pressa de motociclistas como motivos para os acidentes.

Nos 3.200 km de rodovias administrados pela empresa, o número de mortes em colisões traseiras saltou 25%, passando de 36 para 45 nos sete primeiros meses do ano, em relação a 2023.

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