Prefeitura de Curitiba incentiva famílias a falar sobre a doação de órgãos

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A doação de órgãos para transplantes é um tema sensível, num momento delicado das famílias, quando há a perda de alguém querido. É nessa hora de profunda dor que a família deve decidir por doar ou não os órgãos para quem aguarda na fila de transplantes.

A decisão se torna mais fácil se o tema tiver sido discutido em casa, por isso, a Prefeitura de Curitiba estimula as pessoas a falar sobre o zelo pela vida e abordar a doação de órgãos nas conversas do dia a dia.

“O Dia Nacional de Doação de Órgãos, comemorado em 27 de setembro, pode ser uma boa data para lembrar do tema e levar o assunto para a mesa do jantar”, estimula a secretária municipal da Saúde, Beatriz Battistella.

Para Ramon Lima, professor de educação física, transplantado renal há três anos e meio, o sim de uma família viabilizou o término das sessões de diálise peritonial e do sofrimento que o colocou na fila de transplantes.

“Hoje tenho vida normal, sem problemas de saúde e devo essa nova realidade à família que disse sim à doação”, diz Ramon.

Casado, pai de duas filhas, de 9 e 6 anos, Ramon divulga constantemente a campanha de doação de órgãos, principalmente no mês de setembro, quando se comemora o Dia Nacional. Já fez palestras em escolas e leva sua história para estimular que o tema faça parte das conversas das famílias.

“Eu considero um ato de empatia com sua família falar que é doador, porque isso tira o peso da decisão”, reflete o professor. Segundo ele, naquele momento de perda o familiar vai lembrar que seu ente querido concordou com a doação. “E amar é respeitar a vontade da pessoa”, destacou.

Ramon sempre quis ser atleta – “um sonho de criança” – e passou a competir depois do transplante pela Liga de Atletas Transplantados. Participou da meia maratona de Curitiba realizada em 17 de setembro e ficou em 12º lugar na categoria em que concorreu. Em maio, participou dos Jogos Mundiais dos Transplantados, na Austrália. Ficou em 4º lugar na corrida de 5 km, mas tem orgulho de ter trazido para o Brasil duas medalhas de bronze, dos 1.500 e 1.800 metros.

“Foi minha maior emoção poder representar o Brasil em uma competição internacional voltada para divulgar a importância da doação de órgãos para a vida das pessoas”, revelou Ramon.

Jogos para transplantados

Em 2019 e 2022, Curitiba sediou os Jogos Brasileiros para Transplantados, realizados pela Associação Brasileira de Transplantados (ABTx) com apoio da Prefeitura. A ABTx é uma organização do terceiro setor criada em 2017 com o abjetivo de promover ações para zerar a fila de transplantes do país por meio de campanhas de doação de órgãos, atuar para melhoria das políticas públicas que envolvem o tema e promover qualidade de vida para os transplantados. A associação tem 7.500 filiados em todo país. No Paraná, são 700 transplantados ligados à ABTx.

“Muitos transplantados não têm a informação de que podem praticar atividades físicas e inclusive participar de campeonatos. A associação incentiva essas práticas para aumentar a inclusão do transplantado no ambiente social e no mercado de trabalho com mais qualidade de vida”, explica o diretor da ABTx Paraná, Rodrigo Swinka.

Transplantes em Curitiba

Curitiba tem sete centros transplantadores, os hospitais de Clínicas, Cajuru, Evangélico Mackenzie, Erasto Gaertner, Pequeno Príncipe, Santa Casa e São Vicente.

Em 2022, foram realizados 734 transplantes pelo SUS Curitibano. Em 2023, de janeiro a julho, já foram 504 transplantes, o que projeta uma ampliação significativa para o ano. Todo o tratamento pré e pós transplante é realizado em clínicas e hospitais contratualizados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

“Curitiba tem uma rede hospitalar qualificada e recebe pacientes de todo país por ser referência de tratamentos de alta complexidade, como é o caso dos transplantes”, explica Beatriz Battistella.

Paraná

O Paraná alcançou o maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes em 2023. Foram registrados 243 doadores de janeiro a junho, o que garantiu a posição de liderança no ranking nacional, com a marca de 42,5 doadores por milhão de população (pmp), seguido por Santa Catarina, com 41,5 pmp, Rondônia, com 30,4 pmp, e Ceará, com 27,5 pmp.A taxa de doações no Brasil ficou em 19 pmp. Os números estão no relatório semestral da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), divulgado em 31 de agosto de 2023.

Segundo levantamento do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, atualmente 3.503 pessoas esperam por um transplante no estado. A fila é maior para quem necessita de um rim – 1.937 pacientes. Na sequência, estão 1.278 pacientes esperando por um transplante de córnea, 244 para transplante de fígado, 29 para coração, 24 para rim/pâncreas e 20 para pulmão.

Sistema Nacional de Transplantes

O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Cerca de 90% dos transplantes realizados no Brasil são financiados pelo SUS.

Sistema Nacional de Transplantes (SNT), vinculado ao Ministério da Saúde, é responsável pela regulamentação, controle e monitoramento do processo de doação e transplantes realizados no país. A lista para transplantes é única e vale tanto para pacientes do SUS quanto para os da rede privada.

O país conta com 27 Centrais Estaduais de Transplantes, vinculadas às secretarias estaduais da Saúde. No Paraná, a rede é composta pela Central Estadual de Transplantes, localizada em Curitiba, além de quatro Organizações de Procura de Órgãos (OPO), em Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel. Estas unidades trabalham na orientação e capacitação das equipes das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, distribuídas em 67 hospitais do Estado.

Saiba mais sobre como funciona a doação e transplante de órgãos e tecidos no Brasil

  • Podem se beneficiar de um transplante as pessoas com doenças crônicas ou agudas, cujos tratamentos já esgotaram as possibilidades de recuperação e que cuja única alternativa seja a substituição do órgão ou tecido afetado e para as quais o transplante seja uma indicação formal e uma possibilidade terapêutica vantajosa.
  • Podem ser inscritos na fila de espera por um órgão ou tecido os pacientes avaliados por equipes transplantadoras, que confirmem a necessidade do transplante e que apresentem doenças reconhecidamente transplantáveis.
  • Todo paciente inscrito na lista de espera pode acompanhar sua posição e evolução na página do Sistema Nacional de transplantes clicando em “Consulta à lista de espera por transplante”.
  • A doação dos órgãos e tecidos só pode ser realizada no caso de paciente em morte encefálica ou parada cardiorrespiratória, se houver autorização de um familiar, como previsto em lei. Se os familiares não autorizarem, a doação não é realizada.
  • morte encefálica é a morte de fato, compreendida pela perda completa e irreversível das funções encefálicas cerebrais, definida pela cessação das funções corticais e do tronco encefálico ou tronco cerebral. Quando isso ocorre, a parada cardíaca será inevitável e, embora ainda haja batimentos cardíacos, a respiração não acontecerá sem ajuda de aparelhos e o coração não baterá por mais de algumas poucas horas. Por isso, a morte encefálica caracteriza a morte de um indivíduo. 
  • Quando constatada a morte encefálica, que é irreversível, o óbito da pessoa é declarado. Nesta situação, os órgãos e tecidos podem ser doados para transplante, mas apenas após o consentimento familiar. A Lei nº 9.434/1997, conhecida como a “Lei dos Transplantes”, estabelece que a doação de órgãos após a morte só pode ser realizada quando for constatada a morte encefálica.
  • Quando o óbito ocorreu por parada cardiorrespiratória (coração parado), pode ser realizada apenas a doação de tecidos (córnea, pele e ossos, por exemplo).
  • O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado pela Resolução Nº 2.173, de 23 de novembro de 2017, do Conselho Federal de Medicina – CFM.
  • A constatação da morte encefálica deverá ser feita por médicos com capacitação específica, observando o protocolo estabelecido que define critérios precisos, padronizados e passíveis de serem realizados em todo o território nacional. Os critérios para identificar a morte cerebral ou encefálica são rígidos, sendo necessários dois exames clínicos com intervalos que variam de acordo com a idade dos doadores, realizados por médicos diferentes.

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