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O evento reuniu especialistas e líderes do setor para discutir como as inovações tecnológicas estão transformando a operação da saúde
Para além da inteligência artificial, telemedicina e dispositivos conectados, uma grande contribuição tecnológica na área da saúde é o poder de integração que ela proporciona, não só oferecendo cuidados avançados, como também criando um ecossistema de saúde mais eficiente e personalizado. Esse foi o tema principal debatido durante o seminário ‘Saúde 4.0: Tech, Mental e Business’, promovido pelo LIDE Paraná.
Os painéis de discussão destacaram como a tecnologia está criando um ambiente mais conectado na área da saúde. Sistemas que antes operavam de forma isolada agora se comunicam de maneira integrada, permitindo um fluxo contínuo de informações entre diferentes setores e especialidades, sem comprometer a proteção dos dados dos pacientes.
“A saúde é transversal a todos os setores empresariais, sendo fundamental tanto para colaboradores quanto para empresários. O Paraná destaca-se por sua excelência em cuidados com a saúde, apresentando casos notáveis que merecem visibilidade – uma missão que o LIDE abraça. A tecnologia já não é uma promessa futura, mas uma realidade presente, e é urgente estimular o debate sobre as transformações em curso neste mercado”, afirma Heloísa Garrett, presidente do LIDE Paraná.
Transformações na saúde e os desafios da gestão no cenário atual
Nos últimos 40 anos, profundas mudanças transformaram a saúde e a vida em sociedade, ocorrendo em um ritmo cada vez mais acelerado. Durante o seminário, Rached Hajar Traya, presidente da Unimed Curitiba, abordou como essas transformações na vida das pessoas e o avanço das tecnologias impactaram significativamente o setor, exigindo que a administração da saúde não apenas acompanhe as mudanças, mas também se antecipe a elas.
Em sua apresentação, Traya enfatizou a necessidade crucial de união entre todos os atores envolvidos na gestão da saúde para atender às novas demandas da população e expandir o acesso aos cuidados. “O grande desafio está nisso. Para que a gente consiga evoluir, nós precisamos entender esse cenário em conjunto, com todos os atores que fazem a gestão da saúde”, destacou. “Porque não é o problema da operadora A, ou da operadora B, ou do país. Se nós não nos debruçarmos sobre isso vamos ter sérias, inúmeras dificuldades daqui para frente.”
Segundo o executivo, a transformação no setor de saúde deve ser um esforço coletivo e colaborativo, acompanhado da implementação de tecnologia em um sistema integrado que permita a comunicação entre os diversos componentes. Essa abordagem otimiza os atendimentos e traz benefícios não apenas para os pacientes, mas também para os negócios envolvidos.
Inteligência artificial
A inteligência artificial é um dos principais pilares da Revolução 4.0, chegando para transformar diversas áreas da sociedade, incluindo a saúde, ao trazer mais precisão, eficiência e novos modelos de negócios.
Cristian Rocha, cofundador e CEO da Munai, destaca que a tecnologia é uma poderosa aliada na prevenção de falhas no sistema de saúde. “No Brasil, falhas no sistema de saúde resultam na morte de 500 mil pessoas todos os anos. Esse é um problema complexo e sistêmico, que demanda soluções igualmente complexas”, explica. “Isso também revela a falta de integração nos sistemas de saúde”.
Quando os dados estão conectados, é possível identificar padrões e tendências que seriam impossíveis de detectar de outra forma. Isso não só melhora a precisão dos diagnósticos, como também promove uma abordagem mais preventiva – exatamente o que a Munai oferece. “Com o uso de inteligência artificial preditiva, aliada ao histórico dos pacientes, podemos prever, por exemplo, o risco de morte ou a necessidade de transferência para a UTI. A plataforma também possibilita o estudo de resistência a antibióticos nos hospitais e oferece interações em tempo real, permitindo que médicos consultem a tecnologia para acessar informações sobre perfis de sensibilidade e resistência de medicamentos”, conclui Zandoná.
Dispositivos médicos
Nos últimos anos, o uso de dispositivos de saúde digital, como smartwatches, tem crescido exponencialmente. De acordo com dados da Statista, o mercado global desses dispositivos deve expandir significativamente entre 2024 e 2029, com projeção de 285,8 milhões de novos usuários – um crescimento expressivo de 62,86%. Esta tendência evidencia uma transformação fundamental na forma como as pessoas monitoram e gerenciam sua saúde.
“Os pacientes estão chegando às consultas muito mais informados, principalmente com dados provenientes da inteligência artificial”, observa a Dra. Anna Clara Rhaba, diretora médica do Agora Consulta. Segundo ela, é fundamental saber organizar e estruturar essa rica quantidade de dados para gerar informação e conhecimento relevante.
Com o envelhecimento populacional, Rhaba destaca a necessidade crescente de dispositivos que permitam monitoramento contínuo sem procedimentos invasivos, que possibilitam uma abordagem preventiva em vez de reativa na medicina. Estes equipamentos permitem um mapeamento mais amplo e preciso da população. No entanto, a médica levanta questões importantes sobre a implementação deste modelo: “Precisamos definir como será feita a cobrança desses serviços. Como remunerar o monitoramento via dispositivos? Durante a pandemia, observamos que a teleconsulta teve seu valor reduzido, mesmo mantendo o mesmo profissional e qualidade de atendimento. Este é um questionamento crucial, pois não estamos discutindo um cenário futuro, mas uma realidade já presente”, conclui.
A interoperabilidade na saúde
A interoperabilidade na saúde representa um pilar fundamental para a modernização do setor, permitindo que diferentes sistemas e dispositivos médicos se comuniquem e compartilhem dados de forma segura e eficiente.
Esta integração vai além da simples troca de informações, pois possibilita que hospitais, clínicas, laboratórios e demais prestadores de serviços de saúde acessem históricos médicos completos, resultados de exames e outros dados vitais em tempo real, independentemente da plataforma utilizada.
Durante o seminário, André Luiz Villas Boas, executivo de transformação digital, abordou a relevância da interoperabilidade e do open health no setor da saúde. “Imagine um paciente atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) após um acidente de trânsito.. Se ele não mantiver seus exames em mãos para consultas posteriores, dificilmente lembrará todos os detalhes sobre procedimentos e medicamentos realizados. A interoperabilidade é crucial neste cenário, pois facilita a troca de informações entre instituições, sejam públicas ou privadas, evitando a repetição desnecessária de exames e eliminando a necessidade de recomeçar todo o processo de atendimento, o que naturalmente reduziria custos”, explica.
“Além disso, o conceito de ‘open health’ é essencial, pois assegura que o paciente tenha acesso e controle sobre suas informações de saúde. A tecnologia necessária para essa transformação já existe; o desafio atual está em regulamentar esse modelo e unificar as informações”, completa.
O Eco Medical Center foi criado com esse propósito, de oferecer cuidado integrado em um único local de forma ágil e segura. O centro busca transformar o atendimento médico por meio da união entre tecnologia, ciência e uma abordagem centrada no paciente, consolidando diversos serviços de saúde em um ambiente integrado.
“A burocracia fica por nossa conta, facilitando a vida tanto do médico quanto do paciente. Independentemente da especialidade, o profissional tem acesso a um prontuário único, com o histórico completo do paciente, incluindo prescrições médicas e medicamentos em uso. Este repositório centralizado de informações é especialmente valioso na redução de desperdícios e na otimização do atendimento”, explica Cassio Zandoná, CEO do Eco Medical Center.
“Nosso desafio é transformar um grupo diversificado de especialistas em uma equipe médica verdadeiramente integrada. Para isso, desenvolvemos eventos científicos estratégicos como o Eco Integra, que atua como catalisador de conexões entre todos os profissionais da casa, o Eco of Science, uma série de encontros direcionados a conteúdos sobre ciência e saúde. Essas iniciativas fortalecem nossa visão de cuidado multidisciplinar e promovem colaborações naturais entre as diferentes áreas”, acrescenta Zandoná.
A transformação digital
Com mais de 200 anos de história no Brasil, o Grupo Marista tem se destacado não apenas por sua tradição, mas também por sua capacidade de se adaptar às novas demandas do setor de saúde. Marcelo da Silva, head de TI do grupo, compartilhou insights sobre a adoção de tecnologia como uma ferramenta essencial para a melhoria dos serviços nos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru.
A inovação aberta é uma das principais estratégias do Grupo Marista, que permite a criação de parcerias com startups e a incorporação de inteligência artificial. Essa abordagem possibilita o desenvolvimento de serviços e tecnologias próprias que têm como objetivo aprimorar a eficiência operacional em todos os setores. Desde a redução de custos até a implementação de soluções voltadas para o atendimento ao paciente, a transformação digital se tornou um pilar central da estratégia do grupo.
Um exemplo prático dessa transformação é a implementação de um sistema de monitoramento que opera 24 horas por dia, 7 dias por semana. Esse sistema acompanha indicadores críticos, como o tempo de espera no pronto atendimento e o fluxo de pacientes.
Ao emitir alertas preventivos quando detecta potenciais gargalos, o sistema permite que as equipes de saúde realizem intervenções proativas, garantindo a manutenção da qualidade do atendimento.
“Pensando no corpo clínico, foi desenvolvido um aplicativo inovador que oferece aos médicos acesso transparente a informações cruciais, como repasses financeiros, prontuários de pacientes e resultados de exames. O sistema ainda inclui alertas inteligentes que notificam os profissionais sobre resultados relevantes, permitindo uma gestão mais proativa dos casos”, explica Silva.
O evento também contou com a participação de um dos maiores e mais prestigiados hospitais infantis do mundo, o Pequeno Príncipe.Fernanda Salgueiro, head de marketing da instituição, relatou como a tecnologia tem sido utilizada e mencionou os principais desafios enfrentados.
“Somos um hospital centenário, operando em um prédio histórico e mantendo nossa essência filantrópica, o que traz uma série de desafios. Nesse contexto, a tecnologia se torna uma grande aliada, permitindo melhorias significativas em diversas áreas”, explicou Fernanda Salgueiro, head de marketing do Hospital Pequeno Príncipe.
‘A tecnologia nos permite otimizar processos e personalizar tratamentos, mas a humanização continua sendo o nosso principal diferencial. Ao investir em soluções digitais, buscamos tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor e eficiente. Nossa jornada em direção à sustentabilidade demonstra que é possível cuidar da saúde das crianças e do planeta, sem abrir mão da qualidade do atendimento.’
O hospital é o primeiro pediátrico no Brasil a ser certificado como carbono zero, alcançando um importante marco em sua missão de reduzir a pegada de carbono. Essa conquista é resultado de ações integradas que visam minimizar o impacto ambiental da instituição e promover a saúde das crianças de forma sustentável e integrada.