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Dos 200 casos analisados, 63% apresentaram hematúria, que é a presença de sangue na urina
Um levantamento realizado por acadêmicos da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) trouxe à tona dados valiosos sobre o câncer de bexiga, que embora seja um dos principais contribuidores para a mortalidade global por câncer, não conta com a mesma divulgação de outros tipos da doença. A pesquisa analisou todos os casos atendidos pelo Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM) entre 2015 e 2023, delineando o perfil dos pacientes, principais sintomas e fatores de risco dessa neoplasia com altos índices de incidência.
O estudo, desenvolvido por Cecília Schimure e Thiago Ronkoski, sob a orientação do Dr. Paulo Jaworski, urologista do HUEM, e da Dra. Samya Mehanna, patologista e docente da FEMPAR, revelou que 73% dos pacientes diagnosticados com câncer de bexiga eram homens, com idade média de 66,8 anos. Com mais de 200 prontuários analisados, a pesquisa evidenciou que a hematúria, ou seja, a presença de sangue na urina, foi o principal sintoma em 63,4% dos casos, destacando a relevância deste alerta para a detecção precoce.
“Compreender a epidemiologia e os fatores de risco do câncer de bexiga é essencial para sua prevenção e redução da carga no Sistema Único de Saúde, além de fornecer uma visão geral da incidência, hospitalização, padrões de mortalidade e tendências no cenário brasileiro” afirma Jaworski, que coordena a Residência Médica em Urologia no HUEM, além de ser professor titular da disciplina na FEMPAR.
Prevalência e fatores de risco
Segundo os dados, 92% dos pacientes estavam na faixa etária entre 50 e 89 anos, o que reforça a predominância do câncer de bexiga entre idosos. O tabagismo foi identificado como o principal fator de risco, afetando 69,9% dos pacientes.
“Esse tipo de estudo é vital para que possamos direcionar campanhas de prevenção de maneira mais eficiente, com foco em grupos mais vulneráveis, além de ampliar a conscientização sobre a importância da prevenção, especialmente em relação ao tabagismo”, ressalta Dra. Samya Mehanna.
A disúria, que envolve dor ou desconforto durante a micção, foi experienciada por 22,6% dos pacientes avaliados. Embora outros sintomas, como dor pélvica e urgência miccional, também tenham sido relatados, foi a presença de sangue na urina que chamou mais a atenção dos pesquisadores, sendo este um dos primeiros sinais de alerta para a doença.
O estudo também avaliou o impacto de hábitos de vida e condições inflamatórias crônicas, como a esquistossomose, além de outros fatores ocupacionais, como a exposição a produtos químicos utilizados na indústria, associados ao desenvolvimento do câncer de bexiga. Embora em menor escala, 4,8% dos pacientes relataram ter trabalhado em ocupações de risco. Baixa hidratação e obesidade também apareceram como fatores de risco.
Importância da pesquisa epidemiológica
De acordo com Cecília Schimure, a intenção inicial do projeto era elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso, no entanto durante a coleta e análise dos dados, perceberam a relevância da pesquisa para a sociedade.
“Além de fomentar a pesquisa científica em nossa instituição, pretendemos aumentar a atenção e interesse da sociedade sobre esse tipo de câncer, que ainda não é tão divulgado quanto os demais. Para conscientizar a população sobre os fatores de risco e métodos de prevenção, assim como fornecer embasamento clínico e epidemiológico para os médicos que atuam diariamente na detecção de tumores do trato urinário”, ressalta a acadêmica.
Thiago Ronkoski conta que a coleta de dados foi um processo minucioso, que exigiu exame detalhado dos prontuários eletrônicos pelos acadêmicos.
“Realizamos uma extensa revisão da literatura médica sobre o tema, em seguida avaliamos mais de 200 pacientes atendidos em um intervalo de oito anos, para catalogar uma série de dados. Após analisá-los estatisticamente obtivemos uma compreensão mais aprofundada dos perfis acometidos pela doença”, explica.
Diagnóstico e tratamento
Diante de suspeita de câncer de bexiga, o primeiro passo é solicitar exames de imagem, sendo a tomografia computadorizada o método mais utilizado para avaliar a extensão do tumor, comprometimento linfonodal e metástases, além de excluir lesões sincrônicas no trato urinário superior. Para confirmação diagnóstica, a cistoscopia de luz branca é considerada o padrão-ouro, permitindo a visualização de lesões na bexiga e a coleta de biópsias para análise anatomopatológica, essencial para o diagnóstico e estadiamento.
O tratamento engloba desde uma simples ressecção local, uma raspagem que é realizada através do canal urinário e sem cortes, até a necessidade de retirada total da bexiga, nos casos mais graves. Quanto mais inicial é a doença, menos invasivo é o tratamento.