Ao menos 9 morreram e 300 ficaram feridos no Líbano; sem citar ação, ministro sugere escalada

Um dia depois do inédito e engenhoso ataque a pagers de membros do Hezbollah, o Líbano registrou nesta quarta (18) mais explosões em diversas cidades. Segundo integrantes do grupo relataram à mídia local, os alvos desta vez foram walkie-talkies usados pelo grupo fundamentalista xiita.

Ao menos 9 pessoas morreram e 300 ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde libanês. A Agência Nacional de Notícias, estatal, disse que também houve explosões de painéis solares e dispositivos de biometria em casas em diversos pontos do país.

Segundo a agência Reuters, houve explosões relatadas na capital, Beirute, nas cidades de Nabatieh, Tiro e Sídon, no sul do país.

O ataque de terça (17) deixou ao menos 12 mortos e 2.800 feridos, 300 deles em estado grave. Ele disparou novamente o alarme de um conflito mais amplo na região, marcado por quase um ano de combates de Israel contra o grupo terrorista Hamas, que atacou o Estado judeu em 7 de outubro passado.

O episódio foi atribuído pelo Hezbollah, que apoia Hamas e, como os palestinos, é bancado pelo Irã, a Israel. O governo libanês fez a mesma acusação, que não foi nem confirmada, nem desmentida por Tel Aviv.

A ação tem o DNA dos serviços de segurança de Israel, que ao longo de décadas aperfeiçoaram métodos para atingir seus adversários de forma focada. Foi assim com um dos arquitetos do ataque terrorista palestino contra a delegação israelense nas Olimpíadas de Munique (1972), assim como o principal construtor de bombas do Hamas, em 1976.

Mas o escopo do ataque de terça é inédito. Segundo as informações iniciais, foram plantados explosivos em cerca de 3.000 pagers comprados cinco meses atrás pelo Hezbollah de uma fabricante taiwanesa. Ela e o governo dos EUA, aliado de Israel, negaram participação no episódio.

Os aparelhos obsoletos eram usados para a liderança enviar ordens de ataque a Israel a seus militantes no sul do país sem permitir que sua posição fosse revelada a drones ou artilharia de precisão.

Os lançadores vinham sendo atingidos antes de disparar porque Tel Aviv triangulava sua posição quando os integrantes do Hezbollah se comunicavam por smartphones, que são equipados com dispositivos de localização por satélites GPS inexistente nos antigos pagers.

Os walkie-talkies, rádios de comunicação que também não empregam localizadores, foram comprados segundo informações de agências de segurança do Líbano na mesma época dos pagers. Um desses órgãos disse à Reuters de forma anônima que os explosivos foram implantados em algum estágio da produção, o que a fabricante nega.

A nova rodada de explosões fará crescer ainda mais a tensão regional. O Hezbollah havia prometido vingança pela ação, que deixou ao menos 500 pessoas cegas, além de centenas de mutilados. Não se sabe quantas vítimas eram do grupo e quantas, civis.

Desde que a guerra em Gaza começou, o grupo tem escalado suas escaramuças fronteiriças com Israel. Os rivais se enfrentam desde 1982, quando o Irã fomentou a criação do Hezbollah nos campos de refugiados da invasão israelense do sul do Líbano, e tiveram sua mais recente guerra aberta em 2006.

Mas o temor do grupo e do Irã de um conflito regional em momentos manteve certo comedimento, com exceção no ataque do Hezbollah com foguetes em retaliação pela morte de seu número 2 em Beirute, em agosto, e no ataque inédito de Teerã ao Estado judeu devido ao bombardeio da embaixada iraniana em Damasco.

Os EUA têm tentado manter a situação sob precário controle com forte presença militar na região, mas o prolongamento da guerra em Gaza e os movimentos do governo de Binyamin Netanyahu complicam a situação

O premiê, que precisa do apoio da direita religiosa para se manter no poder, tem elevado o grau de ameaça ao Hezbollah. O retorno dos talvez 80 mil israelenses que deixaram o norte do país pelo perigo de ataques foi incluído na terça como prioridade da guerra, o que sugere ação militar.

Para a base de Netanyahu, o cenário conflituoso favorece um acerto de contas geral com seus adversários, apesar do risco de a situação espiralar. Para agradar os aliados, o premiê também frita o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que determinou a convocação dos tradicionalmente isentos ultraortodoxos para servir no Exército.